Sanguinária


Quando se imaginava o século XXI, pensava-se numa utopia tecnológica, onde carros voavam e vivia-se numa sociedade igualitária, fome zero, fim da Era Nuclear. Uma sociedade onde mulheres viviam no mesmo patamar que os homens. “Isto não é o caso,” diz qualquer ser humano vivo em 2019. Infelizmente não progredimos tanto assim, pois ainda temos desigualdade em massa, especialmente quando se fala de gênero, uma grande polêmica nos dias de hoje. A própria natureza feminina está em pauta, a menstruação; o velho tabu continua firme e forte. 

Algo tão banal como menstruação--aquela pequena chatice de sempre, continua sendo ignorada. O mercado pinta esse tabu de azul, com sua estética de limpeza, vestidos brancos e sorrisos. Aqueles dias, mar vermelho, o visitante do mês, são mais maneiras de disfarçar o fenômeno mais natural do mundo: ciclo da vida. Afinal, a menstruação é nada mais do que um sinal de saúde  fertilidade. Não se fala sobre a menarca (a primeira menstruação), não se fala sobre sexo, sobre gravidez ou menopausa. Não se fala sobre o ciclo de vida da mulher. Essa relutância para dialogar tem danos.

A mera palavra gera desconforto para ambos mulheres e homens. Foram séculos em que as mulheres foram oprimidas por menstruarem. Em alguns povos mulheres eram vistas como impuras, outras às isolavam da tribo uma vez ao mês. Gloria Steinman, uma columnista americana que escreveu “Se homens pudessem menstruar,” em 1986 disse que em vez do conceito “inveja de pênis” de Freud, “inveja de útero” faz mais sentido, afinal é o órgão feminino que consegue gerar a vida.

Será que ao ignorarmos a menstruação, estamos ignorando a nossa essência natural? A autora Clarissa Pinkola Estés, Phd. de “Mulheres que Correm com os Lobos: mitos e histórias do arquétipo da Mulher Selvagem,” convence que a domesticação da mulher nos fez perder contato com a nossa própria natureza. Não é coincidência que mulheres que convivem muito no mesmo espaço sincronizam seu ciclo, não é coincidência que o ciclo menstrual e as fases lunares se renovam a cada 28 dias.

De acordo com The Lancet, em seu artigo “It’s time to talk about menstration,” dados alarmantes da UNICEF se destacam, como um terço das meninas no sul da Ásia não sabem o que é a menstruação até sua menarca. Na Índia, 12% de meninas e mulheres têm acesso a produtos de menstruação. No curta documentário, ganhador do um óscar, “Period. End of Sentence,” mostra a vergonha que mulheres têm para dizer a palavra “menstruação,”. Nas entrevistas com homens, um grupo dizia que “menstruação é uma doença que atinge quase todas as mulheres”.

Como é possível tanta desinformação sobre um assunto tão antigo quanto o ser humano? Precisamos falar sobre menstruação e quebrar esse tabu, portanto este projeto: Sanguinária.

A primeira colagem produzida foi uma mulher surfando num O.B. sob um mar vermelho. A surfista é uma imagem de, Bethany Hamilton, o céu e a tangerina foram baixadas de um site de banco de imagens gratuito, Unsplashed.

A partir dessa colagem digital, foi-se gerado um texto autoral e diagramado numa estética de jornal.​​​​​​​














PARTE 1 - MAPA MENTAL

A cada passo do curso, recebemos conteúdo de fora e estimulados a aplicá-los na criação de uma imagem. Foram cinco exercícios propostos nessa primeira etapa, portanto foram cinco imagens geradas: enquadramento, reprodução, aceitação, estética fascista x beleza e isenção x comprometimento.




1- Enquadramento





2 - REPRODUÇÃO
​​​​​​​




3 - ACEITAÇÃO





4 - Estética Fascista x Beleza






5 - Isenção x Comprometimento













PARTE 2 - MENSAGEM PÚBLICA

Ao juntar as imagens geradas nos exercícios, observa-se que há várias semelhanças entre elas. A mais chamativa eram os eufemismos usados inconscientemente. Nenhuma das imagens retrata a menstruação plenamente, mas elas abrem o diálogo sobre o assunto. Isto é o objetivo de uma mensagem pública, especialmente quando se trata de tabus. 

No curta documentário, “Period. End of Sentence,” a narrativa acompanha uma comunidade rural na Índia, que quando entrevistados sobre o  assunto da menstruação, o espectador é chocado com as respostas. As meninas riam de vergonha à menção da palavra, tinham até algumas que não conheciam o termo. No curta, fica claro que o assunto é jamais mencionado, portanto gerando desinformação em massa. Mas quando uma máquina de fazer absorventes é instalada na comunidade, as mulheres se unem para trabalhar. Esse trabalho estimula as mulheres a falarem sobre a menstruação entre si, e com outras, especialmente quando elas vão para a rua vender os absorventes, algo escasso na comunidade.

No momento em que as mulheres se unem para falar sobre sua natureza, elas criam um laço de irmandade, uma rede de apoio a umas as outras–a definição de empoderamento feminino. Seguindo essa linha, eu queria abrir o diálogo sobre a menstruação, para unir as mulheres e empoderá-las. Portanto, escolhi a colagem sobre Aceitação, de mulheres felizes com si e seus corpos para gerar as próximas colagens baseadas em figuras de linguagem: metáfora, eufemismo, antítese, prosopopeia e pleonasmo.



1 - METÁFORA







2 - EUFEMISMO






3 - Antítese






4 - Prosopopéia






5 - PLEONASMO




























OBRIGADA!
Sanguinária
Published:

Project Made For

Sanguinária

Série de colagens digitais sobre menstruação. A series of digital collages about mensuration.

Published: